quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quanto vale uma vida?

Estou em casa, tranqüilo, horário do jantar, mais ou menos 20h00 quando toca o telefone.

A empregada de casa sai correndo e diz: Seu irmão foi seqüestrado! E me passa o telefone.

Assim que atendo ouço nitidamente a voz de meu irmão, desesperado, gritando, não chorando, dizendo que estava ferrado, tinha perdido tudo e que ia morrer.

Logo em seguida uma voz vem ao telefone e o seqüestrador se apresenta dizendo que tratava-se de um assalto seguido de seqüestro e que meu irmão estava com eles.

Mantive-me calmo e comecei a conversar com o seqüestrador, ele, também calmo me perguntou quem estava em casa naquele momento, pois queria dinheiro, muito dinheiro.

Passei o telefone para minha mãe que logo que atendeu se surpreendeu pelo valor pedido, 50,000 dólares. Minha mãe começou a conversar com o seqüestrador enquanto isso me passou seu celular para que tentasse ligar para o celular do meu irmão.

Liguei e... Caixa postal! Telefone fora do ar. Mina mãe já começava a ficar desesperada, pois não sabia da onde tirar o dinheiro. Logo o seqüestrador abaixou o valor para 30,000 reais e minha mãe continuava desesperada.

Eu com o celular na mão ligava para todos os amigos do meu irmão perguntando dele para seus amigos e nenhum deles o havia visto.

Vou explicar agora o panorama da situação para vocês.

Meu irmão faz faculdade em uma grande e cara faculdade de São Paulo, alem de ser uma faculdade que cobra 2,200 reais pelo curso, tem pessoas da alta sociedade estudando no local. Nós aqui em casa não podemos pagar por tal curso e sendo assim, meu irmão tratou de arrumar um estagio na faculdade que lhe dá 65% de desconto no curso graças ao estagio que ele faz na faculdade.

Como podem ver, meu irmão é quase um peixe fora d´água, vive em um meio com pessoas do meio que não pertencem à mesma classe social, vive com pessoas que gastam absurdos em coisas fúteis e que pagam um curso caríssimo como esse apenas com suas “mesadas”, é claro que assim como ele tambem existem outros, mas são raros em uma faculdade que cobra essa mensalidade para um curso popular.

Quando conversava com o sequestrador ele me disse que haviam feito um seqüestro por engano, que meu irmão estava no lugar errado, na errada e havia tomado o lugar de um importante e rico filho de um delegado federal.

Ao ouvir isso tinha a certeza de que ERA MEU IRMAO, uma vez que no lugar que estuda, nada impede que ele tenha saído da faculdade, à noite, e ao ir para o ponto de ônibus, tenha sido confundido com um filho de outra pessoa.

Eu ligando e o celular dele desligado, quando já iam 20 minutos de conversa com o seqüestrador, ele pediu para minha mãe uma quantia pequena que ela dizia ter e ele pediu para que fosse comprar em cartões "claro" na rua, pois assim ela não teria que ir ao local onde ele estava e ao mesmo tempo ele soltaria meu irmão, pois tinha consciência de que nós não tínhamos dinheiro e não precisaria matar meu irmão.

Ao dizer isso, ficamos muito desconfiados em casa, pois já conhecíamos o trote da ligação, mas tudo indicava que era realmente meu irmão.

Até que... Prestes a sair de casa para comprar os cartões, liguei para meu irmão e ele atendeu naturalmente. Disse que estava no “busão” indo para casa e que estava tudo bem com ele.

Perguntei-lhe porque seu celular não funcionara antes e ele me disse que era porque dentro da faculdade, onde trabalha, o celular fica sem sinal às vezes.

Vocês não fazem idéia do alivio que me veio esta hora. Ta para existir momento igual a este em que o coração ficou na garganta.

Aliviado contei para minha mãe que meu irmão estava no ônibus indo para casa e pedi algumas medidas para ele para que me provasse que estava realmente onde estava. Ao concluir que ele estava bem e tranqüilo, mandamos o “seqüestrador” para o diabo que o carregasse e desligamos o telefone.

Pois é, quase caímos no trote do seqüestro e não fosse 2 minutos tínhamos pago um resgate inexistente.
Sei que muitos vão achar engraçado isso, mas eu não me importava em ter pago o “resgate”. Claro que ficaria triste e muito puto da vida de saber que paguei algo à toa, mas teria certeza que teria feito meu maximo para ter irmão vivo e saudável de volta.

Em um mundo de tantas atrocidades, numa cidade em que cidadãos atiram nos outros no transito porque receberam um dedo do meio por uma fechada, nunca podemos duvidar dos fatos.

Pior, muitos bandidos se aproveitam disto para tirar o dinheiro alheio. Instalam o terror e pânico nas pessoas gratuitamente e depois tentam se aproveitar do PANICO geral.

Depois deste episodio fiquei pensando... Quanto vale uma vida? Quanto vale A SUA VIDA?

Você pagaria um resgate falso? pagaria na duvida, pela certeza de ter um familiar salvo?

Se eu pudesse, pagaria milhões para ter a certeza de que meu irmão estaria são e salvo em casa. Imagine o desespero de quem tem o filho seqüestrado realmente e não pode pagar a quantia que os seqüestradores pedem (como seria o nosso caso caso fosse verdade).

Não conseguia parar de pensar também que tudo isso tinha sido um trote e que nada daquilo era verdade. Como me senti mal por isso.

Senti-me um inútil, uma preza fácil para qualquer um. Senti-me como o mais tolo dos inocentes do mundo.

Não conseguia parar de ter raiva, raiva de mim mesmo por ser enganado, raiva e muita raiva da pessoa que nos passou este trote e raiva máxima, rumo a fúria que vinha de dentro pensando EM QUE MUNDO VIVEMOS?

Claramente é impossível ter paz neste mundo. Pessoas que vivem lutando para poder pagar suas contas ainda são submetidas a este tipo de aflição.

Onde vamos parar?

Graças a Deus meu irmão esta bem e nós não tivemos que pagar resgate algum, mas fica a lição para todos que possam ser submetidos a esta prova de fogo.
Pedi para que meu irmão passasse o telefone da empresa que trabalha e agora sempre que saímos temos que passar o nosso e mais algum celular, assim sempre teremos como nos comunicar caso algo aconteça com nossos celulares.

Uma grande abraço a todos


Filipe Toledo

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