sexta-feira, 1 de abril de 2011

Meu nome é Esporte

Desde pequeno sempre fui fascinado por esporte.

Quando moleque, corria por cima dos muros tentando me equilibrar, jogava futebol com meu pai e era fissurado em qualquer esporte.

Ao mesmo tempo que jogava futebol no clube, era atleta

de corrida na escola, fazia corrida de velocidade e salto em distancia. Não passava um minuto da minha vida sem praticar esportes.... ou brincando no computador.

Até os 15 anos joguei futebol pelo clube em que era sócio e fui atleta integrante do grupo que participava de competições durante 7 anos sendo convocado inclusive para participar de equipes que representariam o Brasil em torneios internacionais sub-15 alem de alguns titulos paulistas inter-clubes entre outros.

Aos 13 anos sem querer, entrei em um ginásio onde estavam jogando um esporte muito estranho, parecia tênis pois usava raquete, parecia vôlei pois a rede era mais alta, parecia peteca pois era jogado com uma petequinha e era rápido, muito rápido. Essa velocidade e violência nos golpes me chamou a atenção e fui experimentar. ADOREI e NUNCA MAIS PAREI

Fui apresentado ao Badminton, esporte que mudou minha vida e vou lhes contar como.

Comecei a brincar e perceber que tinha um certo jeito pro negócio, pedi aulas a um chinesinho incrível Paulo Fan, um cara incrível que aprendeu sozinho aos 28 anos de idade a arte do Badminton e chegou a ser 5 vezes campeão Nacional mesmo com idade já avançada.

Ele me ensinou muito do que sei até hoje. Foi um dos grandes mestres que tive pelo caminho, tanto pelos ensinamentos técnicos e específicos, quanto na parte fora da quadra. Nas atitudes sempre calmas e pensadas, mostrou-me como poderia me tornar um excelente professor. Como sabia ensinar.

Foi o grande espelho que tive para começar a dar aulas e sempre busquei observar suas atitudes e representa-las quando eu estivesse dando minhas próprias aulas.

Depois de treinar um bom tempo sem jogar nenhum campeonato, já tinha adquirido um bom nível e passei a jogar torneios estaduais e posteriormente nacionais.

Ao conquistar resultados bons em âmbito nacional, mesmo com pouca idade, fui convidado a morar em Portugal (com 17 anos), sendo contratado por um clube na Ilha da Madeira. Apesar da duvida, decidi aceitar o desafio.

Me mudei para Portugal sem conhecer nenhuma pessoa. Não conhecia nem mesmo o dono do clube que iria jogar e muito menos tinha amigos para me ajudar em caso de emergência.

Depois de tudo acertado por telefonemas e e-mails, fui para Ilha e chegando lá tive uma grande surpresa.

Com 3 dias apenas na ilha, descobrimos que todo meu contrato estava inválido pois o clube precisava de um atleta 1 ano mais velho do que era na época. Isso causou uma quebra de contrato e o dono do clube me chamou e disse que poderia escolher entre pegar minha passagem de volta e voltar ao Brasil no dia seguinte, ou, poderia ficar treinando lá mas por conta própria. Teria que arcar com meus custos e arrumar lugar para dormir e tudo mais.

Resolvi ficar mesmo assim.

Consegui um lugar para morar por um tempo em uma pousada. Lá fiz amigos que me ajudaram muito pois estava sozinho em um país, ou melhor, em uma Ilha e não conhecia absolutamente nada e ninguém.

Não tinha como voltar para casa caminhando, nem mesmo de carro. Sobrevivi nesta Ilha por 3 meses, comendo em lugares bem baratos para economizar dinheiro para pagar a estadia. Alem disto, tive que lavar minhas roupas no tanque e passa-las colocando livros em cima delas depois de lavadas pois não tinha nenhuma lavadora ou maquina de passar para me ajudar nessas tarefas.

Treinei muito e aprendi muito lá. Mas o que mais aprendi não foi sobre esporte, foi sobre a vida. Aprendi como ela é dura e nos prega peças.

Depois que voltei para o Brasil as coisas ficaram muito mais fáceis. Morava ainda com meus pais e não precisava mais lavar tortuosamente as roupas de treino pois tinha lavadora. Passei a focar nos treinamentos, com uma vida muito mais simples, tive uma melhora em meus desempenhos dentro de quadra.

Passado um tempo aqui no Brasil percebi que estava ficando estagnado, treinava sem grandes objetivos e sem grande motivação. Sendo assim decidi ir viajar novamente. Achei um centro de Treinamentos na Bulgária, mais precisamente em Sófia e mais uma vez, sem conhecer nada e ninguem resolvi ir e ver no que ia dar.

Sem falar búlgaro, me virei com o inglês e passei 3 meses confinado em um lugar em que minha rotina era Acordar, comer, treinar, descansar, treinar mais ainda, jantar e dormir.

Nesse período as coisas não eram difíceis, por ser um centro de treinamento, tínhamos toda a infra-estrutura necessária para nossa vida. Tínhamos alimentação grátis, tínhamos treinamento e transporte. Maquinas para lavar roupa (imprescindível) e outras facilidades para que não tivessemos nenhum problema e pudessemos focar apenas em treinar.

Não sai disto em 3 meses e logo que o período de treinamentos acabou, consegui um lugar para dar treinos e treinar na Espanha.

Fui morar em Granollers, uma cidadezinha pequena próxima a Barcelona, e lá morava na casa de uma Brasileira onde alugava um quarto.

Na Espanha melhorei meu espanhol (antes precário) e treinei bastante, mas o mais importante foi começar a dar aulas para crianças. Lá comecei a desenvolver meu habito de treinador alem é claro de conhecer um pouco mais sobre a cultura espanhola, a cidade de Granollers e a grande cidade de Barcelona também.

Durante minha estada na Espanha participei de alguns campeonatos internacionais, jogando na Grécia, Itália e outros mais.

Na Grécia passamos por momentos tensos pois chegamos exatamente em um momento de conflitos entre população e governo.

Participamos diretamente dos noticiários do mundo ao presenciar ao vivo e a cores uma Guerra Civil que acontecera por causa da revolta popular contra a policia governamental em virtide de uma morte inocente por parte dos policiais.

Passados 3 meses na Espanha, voltei ao Brasil para tentar me consolidar como um jogador de ponta do esporte nacional.

Nesta época já passei a ter bons resultados nacionais mas ainda buscava voltar para a Europa.

Com 6 meses aqui no Brasil, consegui achar um clube que me contratou para dar aulas para seus alunos... fui para a Dinamarca, um dos melhores lugares do mundo para se praticar Badminton alem é claro de ter um dos melhores IDH´s do mundo.

Lá passei a dar aulas para crianças dinamarquesas e treinar em um nível muito alto e intenso. Conciliava meus dias entre aulas e treinos e quando podia ia conhecendo as cidades ao redor. Participei ainda de um torneio na Noruega.

Mas foi na Dinamarca passei meu pior momento na vida.

Quando estava indo jogar o Torneio da Noruega, minha passagem estava programada para as 6h e sendo assim, teria que estar no aeroporto as 4h. Para mim era claro o pensamento: Vou dormir no aeroporto e evito de ter que acordar as 3h para pegar um Táxi até o aeroporto que demoraria 1h de viagem.

Nevava muito, e fazia um frio infernal na noite anterior a viagem. Fui no ultimo ônibus da noite para o aeroporto e chegando lá depois de 1h de viagem, ele estava aceso e vazio.

Entrei e comecei a me arrumar em um canto quentinho, quando um segurança veio até mim e disse que o local estava fechando e que eu não poderia ficar lá.

Não acreditei. Implorei para que ele me deixasse ficar, para que me trancasse dentro de alguma sala, fizesse qualquer coisa, porque não teria como voltar para casa naquela noite. O guarda ficou com muita pena porem não aliviou. Me jogou para fora do aeroporto, sob a neve da Dinamarca, em um frio de congelar a alma.

Então estava eu, com raqueteira para jogar o campeonato e alguns agasalhos no meio do nada, congelando. Senti que estava em sérios apuros.

Ao avistar uma entrada proibida que levava para dentro do aeroporto, não pensei duas vezes. Pulei a cerca e invadi a entrada proibida. Ela não levava diretamente para dentro do aeroporto, porem já era um lugar coberto pelo menos. Arranquei todas minhas roupas de frio da raqueteira e vesti todas, tirei um segundo tênis que possuía na mala e sentei em cima dele para que não tivesse os glúteos congelados.

Sentei lá e tentei dormir. Tinha que esperar 4h para o aeroporto abrir e a cada 15 minutos um som ensurdecedor de gases passando por tubulações que levavam para dentro do aeroporto me acordavam.

Passei as 4 horas concentrado em tentar dormir. Ao passar o tempo levantei-me e pulei de volta a cerca com medo de que algum vigilante me visse lá e me prendesse por estar em lugar proibido. Só me restava essa: alem de passar a noite congelando, ser preso ao amanhecer e perder o vôo.

Depois que pulei a cerca, dito e feito, uma policial veio checar o aeroporto antes de abri-lo e passou por onde outrora tinha passado a noite.

Aliviado entrei no aeroporto e peguei meu vôo para Noruega, mas o que ficou foi um grande ensinamento que tive naquela noite.

Durante a noite me fortaleci mentalmente como poucas vezes tinha sentido na vida. Acho que foi exatamente naquela noite que realmente me conheci. Foi nesse grande aperto que fortaleci como nunca minha personalidade e amadureci como nunca nenhum ensinamento tinha me feito amadurecer antes.

Aprendi a me virar em uma situação extremamente adversa e suportei a pressão do frio. Sai daquele aeroporto mais forte do que quando cheguei. Sai vitorioso.

Depois de tantos problemas voltei para o Brasil e aqui estou desde então.

Obtive resultados muito importantes e cheguei ao topo do esporte nacional, tendo sido campeão Nacional em dupla masculina no ano de 2010 (1o colocado no ranking geral durante o ano de 2010).

Com esse resultado também participei do campeonato Panamericano de Badminton no final de 2010.

Em resumo, minha vida toda participei de esportes diretamente, sempre de forma competitiva, o esporte me moldou para ser o que sou hoje. Sou muito grato ao esporte pois tudo que sou, devo ao esporte. Sou mais grato ainda ao Badminton, pois mudou minha vida. Foi graças a ele que pude viajar, conhecer o mundo, diferentes culturas, crescer mentalmente e ser uma pessoa mais preparada para a vida.

Atualmente me considero uma pessoa muito centrada, calma, disciplinada e organizada graças ao que o esporte me ensinou.

Graças a ele, aprendi a viver, passei por situações delicadas e de muita alegria, formando a pessoa que hoje sou.

Graças ao esporte, conheci mais de 20 países, aprendi a falar inglês fluente (até então era só teórico na escola) e aprendi o espanhol fluente (sem nunca ter tido aulas).

Aprendi que a vida nos derruba inúmeras vezes e sempre que puder ela vai nos deixar para baixo, ela vai nos deixar fraco e vunerável, mas é preciso levantar e lutar contra todas as adversidades e vencer as barreiras que a vida nos impõe.

Aprendi que quando nós achamos que estamos no fundo do poço, sempre há para onde descer e para subir um pouco é muito difícil. Cada degrau que subimos é incrivelmente difícil de alcançar, mas basta um escorregão para voltarmos ao começo da escadaria, por isso tomem sempre cuidado por onde andam e quais degraus escolhem pisar.

Hoje trabalho como treinador de alto rendimento, personal trainner e busco passar toda a minha vivencia para todos meus amigos e clientes.

Espero que possa ter contribuido com algo na vida dos leitores, que vejam que cada vida possui suas próprias quedas e conquistas. Cada vida é unica e cada experiencia tambem. Por isso resolvi dividir as minhas, para que possa servir de espelho para alguem como os poucos mestres que tive na vida me serviram.